JOÃO ANTÔNIO E O CORPO A CORPO COM A LINGUAGEM
Ana Maria Domingues de Oliveira (UNESP/Assis)

Sobre a obra de João Antônio, um dos aspectos que a crítica comumente aponta é a proximidade de sua escrita com a fala coloquial dos extratos marginalizados da sociedade. Segundo alguns autores, tal proximidade seria característica de uma literatura neo-naturalista, que se consubstanciaria num texto de traços mais referenciais e, portanto, de espelhamento da realidade, sem preocupações com a estilização textual que é própria da literatura.
Em minha apresentação, entretanto, o viés de análise é outro. Procurarei demonstrar, nos contos de João Antônio, a presença de uma linguagem que, tendo como matéria prima a fala coloquial dos habitantes das periferias urbanas, exerce sobre ela um processo intenso de estilização literária. O autor de Malagueta, Perus e Bacanaço, assim considerado, estaria, portanto, à altura dos melhores escritores da língua portuguesa.