O CONCEITO DE ERRO NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX-XX
Érica Bertolon (USP)

Advinda da Itália, a Congregação Salesiana teve de lidar com questões muito relevantes para a sociedade paulista daquele entresséculo: ser imigrante, italiano e ultramontano.
Interessa-nos saber em que medida o Colégio Coração de Jesus, espaço da heterogeneidade, trabalhou a língua portuguesa, consubstanciando a norma do falar e escrever entre alunos e professores e, em última análise, contribuindo para a formação da norma culta do português paulista.
Utilizaremos para análise as correções realizadas no livro ?Lições Populares de Perseverança? escrito por Pe. Lourenço Giordano, vinte e quatro anos após radicar-se em terras brasileiras.
Para o desenvolvimento deste trabalho, buscamos o diálogo com Franchi [com] Negrão, Muller e Possenti (2006), na medida em que seus estudos propõem reflexão do ensino gramatical nas escolas.
Destacamos as sentenças abaixo para melhor ilustrar o encaminhamento das análises:
(a) realidade sintática: De que modo formar-se-á um só rebanho? (p.9)
(b) paradigma de correção: De que modo se há de formar um só rebanho?
No trabalho em andamento, observamos que uma grande preocupação com a realização perfeita na escolha lexical, na disposição e relação das palavras dentro da sentença, fato que, à primeira vista, poderia ser interpretado apenas como conservadorismo e/ou preciosismo linguístico.
Inferimos, por isso, que as (re)construções sintáticas vão ao encontro de propostas de libertação das marcas dialetais em favor de um uso ?perfeito? da língua portuguesa. Diante do olhar reprovador ao imigrante da sociedade paulista daquele entresséculo, agregava-se um valor excepcional à correção.