O RIO. AS MARGENS. A TRAVESSIA
Sueli Regina Leone (UNIBAN)


Há, no imaginário humano, uma simbologia em torno da água, ora associada à vida, ora à destruição, ou ainda, aos rituais místicos de purificação ou à sensualidade e desejo. Observa-se, na escritura literária, o uso constante dessa simbologia. Foi a partir desta constatação, que este trabalho de pesquisa foi desenvolvido, tendo como objeto de estudo o conto A Terceira Margem do Rio, de João Guimarães Rosa, respaldado teoricamente pelas análises de Walnice Galvão. Em A Terceira Margem do Rio, conto de maior destaque dos vinte e um do livro Primeiras Estórias, a água possui um significado esotérico que dá à narrativa um caráter de iluminação, iniciação de mistérios, possibilitando um olhar interior. A “terceira margem do rio” representa o meio do caminho, a passagem incompleta tanto para o pai, que decidiu viver isolado de todos, no meio do rio, como para o filho, que ficou na margem a espera deste. Simbolicamente, o rio remete-nos ao espaço em que ocorre o decurso inexorável do tempo. E é nesse espaço que se apresenta o impeditivo que vai de encontro à correnteza, interrompendo o fluxo da água e estabelecendo-se como margem - a terceira, aquela que não é – culminando com uma travessia não realizada.