“TODOS OS NOMES” E “HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA” DE JOSÉ SARAMAGO: DANDO VOZ A SUJEITOS DO LIMIAR EM CONTEXTO PÓS-MODERNO
Sonia Frota Pessoa (Instituto de Física USP – Profª Aposentada)



Mikhail Bakhtin, em sua obra “Problemas da Poética de Dostoiévski”, ressalta que esse autor é capaz de dar voz a suas personagens, fazendo com que estas escapem às descrições fechadas, tão usuais por parte do narrador onisciente costumeiro da época, que regularmente as definia a revelia. Neste trabalho investigamos as obras de Saramago citadas acima, à luz dos conceitos introduzidos por Bakhtin, em especial o de sujeito do limiar, personagem autoconsciente e inconclusa, que dialoga constantemente consigo mesmo e com o mundo.
Notamos que em “Todos os Nomes” e na “História do Cerco de Lisboa”, Saramago evita o Ichzahlung, fazendo uso de um narrador onisciente (ou quase), o que obviamente dificulta a explicitação do processo dialógico inerente ao sujeito do limiar. Neste trabalho mostramos que apesar de utilizar um narrador externo à trama, uma narrativa em terceira pessoa, Saramago, através de recursos bastante complexos, consegue, dentro do contexto pós-moderno, dar voz e autoconsciência a suas personagens, criando heróis inconclusos do tipo bakhtiniano, sempre em eterno devir.