A IDENTIDADE EM AS NAUS, DE LOBO ANTUNES: O POETA
Raquel de Sousa Ribeiro (USP)


Na obra As naus, Lobo Antunes põe em relevo a figura dos retornados, vítimas das guerras coloniais. Estas personagens da contemporaneidade, no entanto, atualizam também imagens que marcaram o início do processo das Grandes Navegações e da colonização portuguesa. Entre os retornados, encontra-se um que escreve oitavas. Além disso, vive da solidariedade de alguns, que encontra em sua perambulação pela cidade. A imagem do passado que esta personagem atualiza, para o leitor, é a de Camões e de sua obra Os lusíadas. Nela, o poeta seiscentista criou uma das primeiras imagens da identidade nacional. Dentre os vários aspectos que a caracterizam, está a fixação das normas da língua portuguesa. Por meio da apropriação de vários aspectos, em especial dos acima mencionados, Lobo Antunes recria, em sua narrativa, uma identidade, adequada à situação contemporânea, que dialoga com a do passado. Este diálogo assemelha-se, em muitos aspectos, ao que Bakhtin identifica na obra do autor russo e examina em Problemas da poética de Dostoiévsky. Pretendemos, em nossa comunicação, com base nos ensinamentos do linguísta e filósofo russo, examinar o tratamento dado por Lobo Antunes a essas questões.