CONTRIBUTOS DOS ‘SABERES VULGARES’ PARA A EDUCAÇÃO EM PORTUGUÊS
Maria Helena Ançã (CIDTFF/Universidade de Aveiro – Portugal)

Este texto pretende contribuir para uma abordagem didáctica atenta aos ‘saberes vulgares’ (naifs, Jodelet, 1989) sobre a língua portuguesa (LP) e a sua aprendizagem. Recupera as representações metalinguísticas vulgares, de Beacco (2001, 2004), encontrando a Folk Linguistics (Niedzielski & Preston, 2003; Preston, 2008; Paveau, 2008) ao dar voz a indivíduos ‘leigos em linguística’ e que se assumem claramente como não especialistas. O objectivo deste texto é, então, analisar os ‘saberes vulgares’ de cabo-verdianos e angolanos adultos residentes em Portugal, através de entrevistas semi-directivas. A partir do conceito-chave ‘representações metalinguísticas’ e no âmbito da análise do conteúdo dessas entrevistas, abrem-se três pistas investigativas (ou categorias), segundo as quais se constroem os sentidos: 1.discurso metalinguístico (descrições/explicações/exemplificações; julgamentos normativos); 2.dificuldades linguísticas; 3.estratégias de aprendizagem. Após análise, concluímos que há toda a vantagem em integrar os ‘saberes vulgares’na Educação em Português, a par dos saberes científicos ou eruditos, únicos legítimos da escola. Se, por um lado, nestes discursos se desvendam crenças e posturas face às línguas (LP, maternas, estrangeiras), tornando claras as pontes que os sujeitos estabelecem entre elas, por outro, são apontadas certas dificuldades específicas perante a LP e sua aprendizagem (preocupação excessiva com a pronúncia, por exemplo). Estes dados vêm, por conseguinte, ampliar o horizonte da Educação em Português. De acrescentar ainda a relevância social e educativa dos saberes pertencentes a estes sujeitos, duas das comunidades lusófonas mais numerosas em Portugal: a cabo-verdiana (2º lugar) e a angolana (3º lugar) (SEF, 2008), cujas presenças nas escolas são, por isso, evidentes.