ORALIDADE NA ESCRITA: NARRATIVAS LITERÁRIAS
Luiz Antônio da Silva (USP)

No Brasil, a partir da década de 80, com as contribuições da Sociolinguística e da Análise da Conversação, houve um grande avanço nos estudos sobre as questões referentes a fala e escrita. Os trabalhos produzidos buscaram analisar as características essenciais dessas duas modalidades, deixando de lado a preocupação costumeira de ressaltar os aspectos dicotômicos. Nos estudos linguísticos brasileiros, Marcuschi (2001) escreveu um dos textos mais citados sobre as relações entre fala e escrita. Fundamentado nos textos do teórico alemão Wulf Oesterreicher, estuda as relações entre fala e escrita em termos de gêneros textuais. Nesse continuum, há, de um lado, o extremo da oralidade e, de outro, o extremo da escrita. Sendo assim, a conversação está em um pólo extremo em comparação com um ensaio acadêmico. O primeiro representa o gênero prototípico da fala e o segundo, o gênero prototípico da escrita. Dessa forma, como analisar o diálogo nas narrativas literárias? Trata-se de fala ou escrita? Os diálogos literários são produzidos a partir da organização geral da conversação cotidiana? É possível aplicar a metodologia da Análise da Conversação para estudar os diálogos produzidos nas narrativas literárias? Fundamentados nos estudos de Oesterrreicher (1996), Briz Gómez (1998), Marcuschi (2001) e Urbano (2000 e 2006), buscamos responder a essas questões e analisar marcas de oralidade em narrativas literárias. Escolhemos como corpus do trabalho um livro de contos (A cabeça) do escritor brasileiro Luiz Vilela.