A CRISE DAS FORMAS NA NARRATIVA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA: OS GUARDAS-CHUVAS CINTILANTES, DE TEOLINDA GERSÃO
Lucilene Costa (UEMS – PG - USP)

O trabalho debruça-se sobre a construção de Os guardas-chuvas cintilantes (1984), de Teolinda Gersão, texto de natureza híbrida o qual se estrutura como um pseudo-diário e/ou um quase romance. A autora, no conjunto de sua obra, vem demonstrando extrema consciência da crise por que passou ao longo do século anterior a figura do autor na literatura, tentando, de certa maneira, redimi-lo ao mesmo tempo em que se depara com o imperativo dos escritores de sua geração de propor novos caminhos para revitalizar a narrativa portuguesa após a Revolução dos Cravos (1974). Em Os guardas-chuvas cintilantes, por meio de uma forma inusitada, várias questões acerca da dissolução dos gêneros no século XX podem ser abordadas como: o estatuto do autor/ a autoria, a verdade/ a verossimilhança, a ficção e a autobiografia. Nesse sentido, a obra em análise instaura um exercício no qual o ficcional conflui para a reflexão crítica da arte e ambos se apresentam indissociavelmente vinculados à procura pela dimensão ética da escritura. Pela singularidade e inventividade deste texto, podemos considerá-lo um dos grandes expoentes da nova literatura portuguesa, instaurador de importantes indagações merecedoras de acurada discussão.