OS PROTÓTIPOS DO ROMANCE EM JERUSALÉM, DE GONÇALO M. TAVARES
Liani Fernandes de Moraes (USP)

O trabalho trata da influência dos protogêneros orais no romance pós-modernista, visando identificar as marcas prototípicas remanescentes dos gêneros matriciais. A análise evolutivo-comparativa de elementos da arte retórica, do diálogo socrático e da sátira menipeia, busca identificar os vestígios desses gêneros, referentes a questões estilísticas, identitárias e temáticas. A metodologia de estudo estabelece-se a partir da pesquisa bibliográfica referente aos protótipos e suas transformações no eixo diacrônico, e da aplicação dos levantamentos na análise do romance, Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares. Os pressupostos teóricos baseiam-se na teoria do romance de Mikhail Bakhtin, que apresenta sua visão do gênero romanesco como produto da evolução das matrizes orais com suas raízes no folclore popular, no riso e no plurilinguismo, configurando, pois, o romance como um gênero híbrido. A evolução da prosa romanesca a partir dos protogêneros revela, ainda, o processo de renovação do gênero, ultrapassando os aspectos literários e evidenciando mudanças no âmbito sociocultural e ideológico, tais como a ruptura da visão linguística ptolomaica, a qual preparou o terreno para o advento da visão galileana da linguagem, que estabelece o romance como um fenômeno plural, ambíguo e inacabado, no qual o embate dialógico se dá pelas posições e vozes em confronto. A análise desses elementos permite a compreensão das questões temáticas, diegéticas, linguísticas e identitárias presentes no corpus estudado, assim como o reconhecimento do romance como um gênero em processo de permanente mudança como resultado da evolução dos gêneros matriciais, com suas fusões, transformações e possibilidades.