UMA ANÁLISE DO FOCO NARRATIVO EM MAYOMBE
Fernanda Cristina Araújo Batista (UPM)



Mayombe foi escrito por Pepetela entre 1970 e 1971 e publicado pela primeira vez em 1980. Na obra, o autor, que foi Comissário do Movimento Pela Libertação de Angola na Luta de Libertação Nacional, aborda criticamente os problemas do movimento e, consequentemente, da guerra, ao construir a imagem dos militantes de forma dessacralizada, pela primeira vez na literatura do país não os retratando como heróis ideais, mas sim como indivíduos cujos anseios, motivos e ideais de luta são e agem diferentemente devido às diferentes origens de cada um. Analisaremos brevemente um aspecto dessa obra literária: o foco narrativo – cuja construção acreditamos não ter sido aleatória, mas sim estudada pelo autor para alcançar determinados objetivos estéticos, políticos e literários. O romance é dividido em seis capítulos nos quais varia o foco narrativo – temos um narrador onisciente e onipresente que se intercala com as personagens, guerrilheiros do MPLA, no papel de narrador da história – a fim de demonstrar que nem mesmo a revolução é um conjunto, mas sim uma condição relativa, sendo enxergada diferentemente até quando analisada de dentro, ou seja, pelos seus próprios membros, pois cada um desses observadores-participantes, tendo origem e, dessa forma, ideologia e cosmovisão próprios, possuem também, seus próprios ideais.