INTERTEXTUALIDADE, ENUNCIAÇÃO E MECANISMOS DE PROJEÇÃO
Elizabeth Del Nero Sobrinha (UAM)



A análise da intertextualidade, sob a orientação da Lingüística Cognitiva e sob a perspectiva enunciativa proposta pelo círculo de Bakhtin, indicam a possibilidade de os intertextos traduzirem não só a participação do enunciador, mas convidar o co-enunciador à interpretação, por meio de mecanismos de projeção (Lakoff & Johnson, 1980; Mark Turner, 1987 e 1996). A análise de intertextos presentes no romance Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, pode nos servir para incentivar a discussão a respeito da autoria, do papel do autor, da relação do leitor com o texto e sobre como tratar o uso desse recurso em textos de caráter literário. Para a composição do corpus da pesquisa, além do próprio livro de Saramago, entrevistamos alunos de graduação de duas universidades paulistanas a respeito dos sentidos atribuídos ao texto; entrevistamos também críticos literários; selecionamos, desses mesmos críticos, resenhas ou críticas cujo tema fosse o Ensaio sobre a cegueira e, com esse material, propusemo-nos a interpretar a enunciação inscrita em intertextos e marcada nas formas do discurso citado. Para esta discussão, foi escolhida a cena intitulada por nós de “As três Graças”. Incluímos as respostas na análise da leitura tanto dos estudantes quanto dos críticos para que pudéssemos observar como se dava a leitura de tal cena e o que cada um atribuía de sentido à presença do intertexto. As conclusões sugerem a participação ativa e responsiva do leitor empírico quando chamado a propor sentidos para o discurso citado, além de demonstrar a intersubjetividade inerente à enunciação enunciada.
Palavras-chave: intertextualidade enunciação projeção autoria