UM ESTUDO SOBRE A MUDANÇA MORFOSSEMÂNTICA EM CONSTRUÇÕES DE PARASSÍNTESE
Caio Cesar Castro da Silva (UFRJ)


Pretendemos, neste trabalho, apresentar considerações sobre a parassíntese (ou circunfixação), que é definida, nos termos tradicionais, como a anexação simultânea de um prefixo e um sufixo a uma base. Os dados que compõem o “corpus” foram gerados a partir de duas construções: a-X-ecer e e/N/-X-ecer. Temos, assim, formas como “embranquecer”, “entardecer”, “amadurecer” e “anoitecer”, por exemplo. Com base na análise das amostras coletadas nos dicionários eletrônicos Houaiss (2001) e Aurélio (2004), levantamos a hipótese de que o circunfixo a-X-ecer teria se cristalizado morfologicamente, enquanto o circunfixo e/N/-X-ecer teria se mantido produtivo na língua. A finalidade do trabalho é, então, encontrar indícios que corroborem a hipótese inicial. Foi feito um levantamento de informações em dicionários etimológicos (CUNHA, 1999; BUENO, 1967; NASCENTES, 1955) a fim de se verificar a primeira entrada dos verbos em textos escritos. Além disso, observamos a aparição dos vocábulos em textos dos períodos do português arcaico e do português moderno, como cantigas de escárnio, Notícia do Torto, Crônica Geral de Espanha, entre outros. Utilizamos, nesta etapa, as bases de consulta dos projetos Corpus Informatizado do Português Medieval (cipm.fcsh.unl.pt), Corpus Histórico do Português Tycho Brahe (tycho.iel.unicamp.br) e peças teatrais do Labor Histórico (letras.ufrj.br/laborhistorico). Buscamos, também, validar esta tendência de fossilização de a-X-ecer com a aplicação de testes psicolingüísticos em informantes da Faculdade de Letras (UFRJ). Propusemos palavras que não fazem parte do léxico de um falante nativo do português (como “anerdecer”, de nerd) para que o informante julgasse a aceitabilidade das formas. Os resultados obtidos, em todas as fases da pesquisa, corroboraram para a afirmação da hipótese inicial. Evidenciaremos esta trajetória de mudança morfológica e semântica com base no aporte teórico da linguística cognitiva (LAKOFF,1987; LAKOFF & JOHNSON, 2002; SWEETSER, 1990), mais especificamente nas noções de mapeamento e estrutura radial (LAKOFF,1987).